Entre promessas e omissões
A Conferência do Clima (COP30), que será realizada em Belém, no Pará, entre os dias 10 e 21 de novembro, promete ser um marco para a diplomacia ambiental brasileira.
O evento coloca o país no centro das atenções globais, com discursos sobre desmatamento zero, transição energética e preservação da Amazônia.
Mas, em meio às metas e compromissos sobre o futuro do planeta, um tema essencial segue relegado ao segundo plano: a saúde humana.
Embora a conferência preveja o Belém Health Action Plan — iniciativa voltada a integrar políticas de saúde e clima —, o tema ainda aparece de forma periférica.
De acordo com dados da ONU e da OMS, menos de 2% do financiamento climático internacional é destinado à saúde pública.
Na prática, o mundo investe trilhões em energia limpa, mas muito pouco em preparar hospitais, sistemas de vigilância e populações para lidar com os impactos físicos e mentais do aquecimento global.
Quando o planeta esquenta, o corpo adoece
A contradição é evidente: o planeta está em risco, mas quem sofre primeiro é o ser humano.
Ondas de calor, doenças respiratórias, surtos de dengue e insegurança alimentar já fazem parte da rotina de milhões de pessoas.
Para o analista e comunicador Cristovão Pinheiro, a COP30 corre o risco de repetir o erro das conferências anteriores — falar sobre o clima sem falar sobre o corpo.
“Todo mundo fala sobre o clima, mas quase ninguém fala sobre o corpo humano.
Enquanto trilhões de dólares vão pra salvar o planeta, menos de 2% chegam à saúde pública.
O aquecimento global não é só temperatura — é febre, fome, dengue, ansiedade, desnutrição.
O planeta esquenta… e o corpo sente. Sem saúde, não existe futuro verde.”
Pinheiro defende que a saúde deve ocupar o centro das políticas climáticas, com foco em prevenção, adaptação e educação.
“O planeta não precisa só de energia limpa — precisa de consciência viva”, reforça.
O vazio ético da agenda verde
Especialistas concordam que o debate climático se tornou excessivamente técnico e econômico.
Os governos discutem carbono, energia e metas financeiras, mas ignoram o sofrimento humano que acompanha o colapso ambiental.
“Não há justiça climática sem justiça sanitária”, resume Cristovão.
O Brasil, anfitrião da COP30, tem a oportunidade de mudar essa lógica, incluindo a saúde como indicador real de sucesso ambiental.
Mas, até agora, os anúncios oficiais priorizam energia e finanças, deixando a integração entre clima e saúde ainda no campo das intenções.
O que está em jogo
- Evento: COP30 — 30ª Conferência das Nações Unidas sobre o Clima
- Local: Belém (PA)
- Data: 10 a 21 de novembro de 2025
- Pontos centrais: transição energética, desmatamento zero e financiamento climático
- Tema ausente: saúde pública e impactos humanos do aquecimento global
Opinião — Cristovão Pinheiro
“Falar em salvar o planeta e esquecer o corpo humano é um erro de escala.
O planeta é o cenário; a saúde, o enredo.
Se o corpo adoece, nenhuma floresta salva o futuro.
Cuidar do clima é cuidar da vida — e essa deveria ser a verdadeira meta da COP30.”
Conclusão
O Brasil, anfitrião da maior conferência climática do planeta, terá sua coerência posta à prova.
Entre a floresta e o corpo humano, entre o carbono e a febre, o país precisa escolher o que quer salvar primeiro.
A COP30 não é apenas uma reunião internacional — é um teste de humanidade.
Folha de Brasília, da Redacão







