No Hospital de Apoio já são dezoito leitos e um ambulatório, os núcleos regionais de atendimento domiciliar também prestam atendimento
A sala cheia para ouvir a palestra da psicóloga Giselle Silva no Hospital de Apoio de Brasília (HAB), realizada no dia 26/4, mostra o interesse cada vez maior dos profissionais de saúde em buscar conhecimentos sobre cuidados paliativos – uma abordagem para promover a qualidade de vida dos pacientes no enfrentamento de doenças que ameaçam a continuidade da vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, como define a Organização Mundial de Saúde.
Um interesse crescente que tem explicação prática: após cumprir um longo processo de formação educacional quase integralmente focado na cura, na abordagem técnica e científica da doença e vivenciar o cotidiano dos hospitais, intensamente permeado pelos dramas naturais da condição humana, como a dor, a solidão, a angústia e a confrontação com a realidade inexorável da morte, muitos profissionais de saúde são impelidos a buscar um modelo de atenção mais humanizado, que confira dignidade ao paciente e a sua família diante de uma situação limite e, em última análise, à evolução do próprio exercício profissional.
Na rede pública de saúde do Distrito Federal, os paliativistas – como são chamados os profissionais especializados na atividade – estão ampliando sua participação na rede. No HAB já são 18 leitos dedicados, mais um ambulatório que, brevemente, deverá atender também o público geriátrico, com médicos, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais e, até mesmo, acupunturista. Os Núcleos Regionais de Atendimento Domiciliar, distribuídos em todas as regiões de saúde do DF, também prestam cuidados paliativos, desenvolvidos por equipes multiprofissionais, composição imprescindível para oferecer a atenção aos pacientes nos aspectos psíquico, físico, social e espiritual.
O secretário de saúde do DF, Humberto Fonseca, que passou por formação profissional como paliativa no HAB, ressalta a importância dos cuidados paliativos nas ações de atenção à saúde. “Nossa formação é direcionada para uma intensa vontade em curar, mas nem sempre é viável alcançar esse intento. Há uma série de enfermidades irreversíveis, quando não há cura, mas que podem ser cuidadas da melhor forma possível, em todas as suas nuances, propiciando a melhoria da qualidade de vida da pessoa e uma convivência mais equilibrada com a situação, que pode ser proporcionada pela adequada oferta de cuidados paliativos”.
No Brasil, a especialidade foi regulamentada em 2011 e, já em 2012, foi oferecida como residência médica no HAB. Nesse ano, cerca de 20 profissionais de saúde estão passando por cursos de formação na área, entre estágios de capacitação e residência, especialidade pela reconhecida pela Associação Médica Brasileira.
EXPERIÊNCIAS – Para difundir informações sobre as técnicas e a importância dos cuidados paliativos, a Secretaria de Saúde tem realizado uma série de atividades educacionais, científicas e culturais para os profissionais de saúde, que incluem palestras, simpósios, encontros literários e a apresentação de filmes que abordam a fase final da vida e visões não convencionais da morte, de aceitação desse momento como uma extensão natural da existência.
Nesta quarta-feira (27), o filme A Partida foi apresentado para residentes de medicina paliativa, psicólogos e outros estudantes interessados no tema. A residente Elisa Marquezine foi uma das dez pessoas que assistiram à sessão do projeto No Cinema e na Vida. “É difícil para os brasileiros falar da morte, que é vista como um tabu em nossa cultura. Por meio da arte, acredito que a gente consiga trazer a temática para a discussão no dia a dia de forma mais fácil”, opina.
Supervisora da residência de medicina paliativa, Alexandra Mendes explica que a proposta dos encontros literários e da apresentação de filmes é mostrar que a morte também faz parte da vida. “Percebo que as pessoas que participam saem daqui refletindo mais sobre a própria vida e isso reflete no cuidado com o paciente, no cuidado com o outro”, diz.
Para Rejane Bernardes, residente de psicologia na oncologia pediátrica do Hospital de Base, o uso da arte para tratar da morte e do luto ajuda na condução terapêutica com o paciente e também com a família. “Discutir a temática depois de assistir ao filme também ajuda a ouvir a vivência de cada um e isso, para mim enquanto psicóloga, é muito importante.
Os encontros literários acontecem toda última sexta-feira do mês e os filmes são apresentados a cada dois meses, sempre na última quarta-feira do mês.
Ascom