Folha de Brasilia (6)
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Lava Jato, Banco Master, desembargador: a corrupção avança enquanto você faz a dancinha

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Lava Jato, Banco Master, desembargador: a corrupção avança enquanto você faz a dancinha

A corrupção no Brasil não apenas resiste ao tempo; ela aprende, se adapta e sobe na hierarquia. Se a Operação Lava Jato revelou um sistema ainda ruidoso, sustentado por propinas explícitas e contratos viciados, os episódios mais recentes indicam um estágio mais sofisticado. O desvio agora opera com aparência técnica, linguagem jurídica e proteção institucional. Já não é o escândalo que chama atenção, mas a naturalidade com que ele se instala.

O caso envolvendo o Banco Master ilustra bem essa mutação. As suspeitas recaem sobre uma engrenagem financeira complexa, blindada por normas, relatórios e discursos de conformidade. À primeira vista, nada parece irregular — e talvez resida aí a sofisticação do método. A corrupção deixa de ser um ato isolado e passa a se diluir em decisões institucionais, pareceres técnicos e estruturas que dificultam a identificação de responsabilidades. O desvio não desaparece; apenas se profissionaliza.

Ainda mais simbólico é o episódio do desembargador preso, acusado de vazar informações sigilosas de investigações. A ironia institucional é evidente: quem deveria proteger a Justiça passa a figurar entre seus principais violadores. Quando o guardião das regras se torna hábil em contorná-las, o problema deixa de ser moral e passa a ser estrutural. A Justiça, que deveria funcionar como último freio, converte-se em atalho.

Esses casos ajudam a explicar por que a corrupção no Brasil parece sempre retornar, mesmo após grandes operações e discursos de regeneração institucional. O problema já não se limita aos porões do poder, mas alcança os andares superiores, onde as regras são interpretadas, flexibilizadas ou simplesmente reinventadas. Combater a corrupção, hoje, exige mais do que punições exemplares: exige reconhecer que ela se tornou mais sofisticada, mais difusa e perigosamente entranhada nas próprias instituições encarregadas de combatê-la.

Folha de Brasília, Da redação