A proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de integrar o Brasil à Association of Southeast Asian Nations (ASEAN) reflete uma ambição diplomática ousada e alinhada à lógica de um mundo cada vez mais multipolar. Ao afirmar que o país “trabalha para ser membro pleno da ASEAN”, Lula sinaliza o desejo de reposicionar o Brasil não apenas como ator latino-americano, mas como ponte entre o Ocidente e o dinâmico eixo asiático. Essa movimentação corresponde ao crescente protagonismo econômico da Ásia, com mercados em expansão e cadeias produtivas que absorvem matérias-primas e produtos brasileiros.
Porém, a meta esbarra em desafios concretos que merecem escrutínio. Trata-se de um bloco formado por dez países asiáticos com critérios de adesão e cultura institucional bastante específicos — demora, negociações, concessões políticas e alinhamentos de segurança entram no pacote. Além disso, o Brasil, embora tenha laços históricos com a Ásia, ainda precisa consolidar sua infraestrutura logística, aperfeiçoar a competitividade de seus produtos e ajustar sua regulação para operar com eficiência nesse ambiente. Sem esse preparo, a adesão pode se transformar em promessa vazia.
Enquanto isso, o discurso de Lula carrega risco e oportunidade em igual medida. A oportunidade está no acesso a novos mercados, investimentos estrangeiros, maior diversificação comercial e um salto de prestígio internacional. O risco está na dispersão de esforços diplomáticos, no custo de adaptação interna e na eventual frustração de plateia se o processo não render resultados concretos. Integrar-se à Ásia não será apenas uma jogada de status: será uma prova de execução. O Brasil precisa mostrar que pode converter ambição geopolítica em ganho econômico, institucional e social para suas regiões menos favorecidas — é aí que se mede a diferença entre sinalização e efetividade.
Da Redação, Folha da Brasília
Foto: Ricardo Stuckert / PR/ Agência Brasil
