A decisão da Câmara dos Deputados de rejeitar a cassação da deputada Carla Zambelli evidencia mais uma vez a dificuldade do Parlamento em aplicar sanções disciplinares a seus próprios membros, mesmo diante de condutas amplamente questionadas pela sociedade e pelo sistema de Justiça. O caso, que envolve episódio armado em via pública e forte repercussão nacional, revelou uma Casa disposta a proteger uma aliada política em detrimento da responsabilidade institucional. Ao votar contra a cassação, os deputados reforçam a percepção de que o corporativismo segue sendo regra quando o comportamento exigido deveria ser o de defesa do interesse público.
A rejeição da pena também reabre o debate sobre o padrão de rigor do Conselho de Ética e da própria Câmara. Parlamentares que atuam em episódios graves frequentemente recebem punições brandas ou escapam por critérios essencialmente políticos. No caso de Zambelli, pesaram articulações internas, alinhamentos ideológicos e o receio de abrir precedentes para julgamentos futuros. A mensagem que fica é problemática: mesmo quando há vídeos, testemunhos e repercussão nacional, a Câmara hesita em responsabilizar seus integrantes, alimentando um ambiente de impunidade que fragiliza a confiança da população no Legislativo.
Além disso, a decisão aprofunda a divisão política dentro da Casa. Para oposição e setores independentes, o resultado demonstra que a Câmara atua sob lógica seletiva, punindo uns e protegendo outros conforme conveniências momentâneas. Já a base bolsonarista celebra um gesto de blindagem. No fim, o episódio revela mais sobre o comportamento político do Parlamento do que sobre o caso individual de Zambelli: um Legislativo incapaz de estabelecer padrões consistentes de ética e responsabilidade corre o risco de perder sua autoridade moral — algo que nenhuma articulação interna consegue restaurar.
Da redação, Folha de Brasília.
Foto: Lula Marques/ Agência Brasil







