A volta aos palcos do guitarrista Chimbinha, da banda Calypso, durou menos de 20 minutos. Vaias e arremesso de objetos vindos de parte do público; tristeza e quase total rejeição da ex-mulher, a vocalista Joelma. Esses foram os ingredientes para garantir um dos momentos mais constrangedores da história do grupo.
A Calypso se apresentou na madrugada deste domingo (4) em uma casa de shows da zona Sul de Teresina. Era 2h23 quando começou o show na capital do Piauí. Fazia quase dois anos que a banda não se apresentava na cidade. Aproximadamente 2.500 pessoas, muitas delas vindas de outros Estados, esperavam pela apresentação.
A banda entrou sem Joelma. Sete músicos, dois casais de dançarinos e um simpático Chimbinha abriram com uma música instrumental. Depois passaram dez minutos apenas com a voz de Joelma no fundo. Nada da cantora aparecer. “Cadê Joelma?”. Era quase um questionamento geral. Enquanto isso, Chimbinha tocava normalmente. Parecia querer manter a normalidade.
O guitarrista saiu do palco. Aplausos eclodiram. Joelma então levantou a cabeça depois de quase 20 minutos e tentou sorrir para os cerca de 500 fãs que ocupavam a parte frontal do palco. A maioria estava uniformizada e levava presentes, flores, cartazes e todas as letras do grupo na ponta da língua. Muitos tinham viajado horas somente para ver a cantora e o grupo.Quando finalmente entrou no palco, cantando o hit “A Lua Me Traiu”, Joelma parecia estar em um velório. Cabisbaixa, sem tom, visivelmente abatida e incomodada com a presença do ex-marido. Foi o suficiente para que o público começasse a pedir que Chimbinha deixasse o palco. O guitarrista ainda tentou resistir, sendo mais sorridente ainda e até fazendo acenos. O casal procurou utilizar o máximo de distância que podia os separar dos 20 metros de palco. Era 2h41.
Menos de dois minutos depois, para tocar uma nova música, Chimbinha surge no palco. A música não foi terminada. Garrafas plásticas cheias de água, latas de cerveja e até cartazes foram jogados em direção ao palco. O único alvo era o guitarrista. Vaias eram quase tão altas quanto à música que tocava.
Joelma começou a chorar. Foi amparada pelos dois casais de dançarinos, por parte dos músicos e por produtores da banda. Chimbinha foi amparado pelo segurança. Teve de sair e não mais voltou. “Até fico fraca, mas eu amo vocês. Obrigada pelo apoio, meus amores, só Deus sabe como está aqui dentro (apontando para o peito)”, relatou, para imediatamente ser calorosamente aplaudida. A cantora ainda fez mais dois desabafos e chorou outras duas vezes.
O backing vocal do grupo assumiu o show. Passou quase 20 minutos cantando músicas aleatórias e era visível o estado de improviso. Ainda passou quase quatro minutos fazendo propaganda dos produtos da banda. Fazia questão de dizer que havia promoção de CDs, fotos, camisas e copos. Quase todos contendo os dois rostos que tornaram a banda uma das mais queridas do Brasil.
Às 3h07 regressa ao palco a Joelma que o Brasil conhece: sorridente, batendo cabelo e fazendo questão de encenar uma das tantas músicas da Calypso que fala de traição.
Sem o marido, o show continuou e durou por mais uma hora e dez minutos, com direito a outra entrada do backing vocal do grupo cantando músicas diferentes das tradicionais da banda paraense. Joelma voltou a dançar, estampar sorrisos e, principalmente, a usar milimetricamente cada palavra que alude à traição para lembrar os últimos fatos que tornaram o casal ainda mais conhecidos este ano.
Por volta de 3h30 a cantora emocionou muitos fãs e presentes cantando uma música evangélica e fazendo questão de dizer sobre a importância de Deus naquele momento. Muitos foram às lágrimas. A música foi acompanhada em coro.
E foi justamente os fãs o diferencial do show. Em todo momento apoiaram a cantora e praticamente todos condenaram – com vaias e arremesso de objetos – a suposta traição do guitarrista. Era com se fosse uma guerra entre o certo e o errado. “Tudo por Joelma vale a pena”, disse o vendedor Elenilson Ferreira, de 25 anos. “É melhor separar, pois traição não tem perdão. A estrela é Joelma”, disse, acompanhado da estudante Letícia Pereira, de 18 anos. Eles vieram de São Luís, capital do Maranhão, e enfrentaram oito horas de viagem para ver a banda.
Os pernambucanos Vaneide Silva, de 43 anos, vendedora, e Jair Silva, de 23 anos, frentista, enfrentaram quase 700 km de Petrolina, Pernambuco, para estar em Teresina. Eles gastaram mais de 40% dos seus salários para a empreitada. “Vale a pena, pois fazemos tudo por Joelma. Ela nos trata super bem. A banda é Joelma, sem ela tudo acaba. Os outros podem sair, mas se ela sair tudo acaba”, comentou Jair Silva, com mais de cem shows da banda no currículo. Vaneide Silva disse que na história quem está certa é Joelma. “Ela é humana e nos trata bem”, completou a fã.
Nem antes nem após o show os dois músicos quiseram falar com a imprensa. Cada um chegou e saiu em veículos separados e até no camarim ficaram em lugares diferentes.
Histórico
No dia 11 de setembro, a Justiça do Pará proibiu Chimbinha de ficar a menos de cem metros de Joelma com base na Lei Maria da Penha. Porém, o advogado do músico conseguiu derrubar a liminar uma semana depois, no dia 18, o que viabilizou a volta guitarrista para a banda. O ex-marido de Joelma, contudo, não apareceu em dois shows da banda que aconteceram em Palmas (TO) e Sítio Novo (MA).
A separação do casal líder da banda foi anunciada no dia 19 de agosto. Poucos dias depois Joelma declarou no programa de Sabrina Sato que seguiria carreira solo e se dedicaria à música gospel a partir de dezembro, quando encerra a agenda de shows com o Calypso.
Fonte: Bol