A escolha do governador Ibaneis Rocha e da vice Celina Leão de se distanciarem das comemorações oficiais do 7 de Setembro em Brasília, organizadas pelo governo Lula, revela mais do que uma divergência de agendas. Trata-se de um gesto político calculado em meio a um dos momentos mais tensos da democracia recente: o julgamento de Jair Bolsonaro no STF. Ao optar pela ausência, as lideranças do DF não apenas sinalizam alinhamento com sua base política, mas também esvaziam simbolicamente um evento que deveria transcender disputas partidárias.
A independência nacional é uma data que pertence a todos os brasileiros, não a governos ou correntes ideológicas específicas. Quando autoridades eleitas se negam a dividir o mesmo espaço institucional em nome da soberania, reforçam a lógica da polarização e reduzem um ato cívico a mero palanque político. A ausência de Ibaneis e Celina será lida, inevitavelmente, como gesto de fidelidade ao bolsonarismo — mas também como recusa de diálogo com a União, em prejuízo da imagem de neutralidade que se espera de governantes que representam todos os cidadãos do Distrito Federal.
O problema central é que a pátria fica em segundo plano. Enquanto a Esplanada se blinda contra protestos e o STF julga um ex-presidente por conspiração golpista, o 7 de Setembro corre o risco de ser mais um retrato da divisão brasileira: bandeiras que deveriam simbolizar união nacional transformadas em instrumentos de confronto. A democracia amadurece quando seus representantes são capazes de ocupar o mesmo espaço, mesmo em meio às diferenças. Ao escolherem se ausentar, Ibaneis e Celina reforçam que, no Brasil de hoje, a política continua a falar mais alto que a pátria.
Da redação, Folha de Brasília
Foto: Renato Alves/Agência Brasília