Viagens oficiais bancadas com dinheiro público crescem, enquanto jatos da FAB estão parados por falta de verba
O Brasil enfrenta uma crise de orçamento na Força Aérea Brasileira (FAB), com aeronaves de transporte e até caças paradas por falta de combustível e manutenção. Mesmo assim, autoridades dos Três Poderes continuam realizando viagens internacionais custeadas com dinheiro público — e algumas delas, ironicamente, usando os próprios aviões da FAB.
Políticos de todos os níveis viajam para o exterior com verba pública
Deputados, senadores, ministros, juízes, prefeitos e até vice-prefeitos mantêm uma intensa agenda de compromissos no exterior, participando de fóruns, encontros bilaterais e “missões técnicas”. Os objetivos alegados vão de “intercâmbio de boas práticas” até “busca por inovação”, mas na prática, muitas dessas viagens não produzem qualquer resultado mensurável para a população.
Eventos como o Fórum Jurídico de Lisboa, apelidado de “Gilmarpalooza”, viraram símbolo de viagens oficiais com clima de turismo político, bancadas pelos cofres públicos — com direito a passagens de classe executiva, hospedagens de luxo e diárias elevadas.
Parte dessas viagens é feita nos aviões da FAB
Em meio aos cortes, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, revelou que 7 dos 10 jatos usados para transporte de autoridades estão parados, e há risco para a prontidão militar nacional. Ainda assim, algumas autoridades continuam usando as aeronaves da FAB para agendas internacionais, mesmo com a frota limitada por falta de verba para combustível e peças.
Enquanto falta verba para voos operacionais e treinamentos militares, não faltam recursos para viagens de autoridades — muitas delas com pouco ou nenhum impacto prático.
Desconexão com a realidade brasileira
Essas viagens contrastam com a realidade de milhões de brasileiros que enfrentam problemas cotidianos como falta de médicos, saneamento precário, estradas esburacadas e escolas sucateadas. Em vez de investir em infraestrutura básica, o Estado financia deslocamentos caros que beneficiam poucos e impactam ainda menos.
Além disso, muitas dessas missões não têm metas claras nem transparência pública. Não há relatórios acessíveis, nem prestação de contas sobre o que foi feito ou aprendido.
Turismo político institucionalizado
O que se vê é um padrão: turismo político com verba pública, autorizado em nome da institucionalidade, mas sem retorno para quem paga a conta — o cidadão brasileiro.
Enquanto o país tenta voar com asas cortadas, a elite política continua embarcando — de preferência em assentos espaçosos, com tudo pago, e sem pressa de aterrissar na realidade.
Folha de Brasília, Da redação
Fotos: Suboficial Manfrim e Sargento Müller/FAB