A 96ª Reunião Ordinária do Consesp, realizada recentemente em Manaus, marcou mais um capítulo na narrativa de integração federativa em segurança pública. Brasília, sob a liderança do secretário Sandro Avelar (SSP‑DF), presidiu o encontro que formalizou o compartilhamento técnico de dados entre os entes da federação, com compromissos de uso via APIs e observância à LGPD e à LAI. A iniciativa é certamente bem-vinda — mas o ponto crítico é: até que ponto essa “integração técnica” sairá dos gabinetes para alcançar ação operativa efetiva nos bairros?
Outro elemento polêmico na agenda é a suspensão solicitada da Portaria nº 961/2025, do Ministério da Justiça, referente ao uso de tecnologias da informação em investigações. Isso indica que o estados ainda não confiam plenamente nos mecanismos federais e querem maior voz nas normas que afetam sua atuação. Embora o protagonismo técnico seja vital, a negociação aberta só faz sentido se resultar em políticas de segurança ágeis, alinhadas ao cotidiano das polícias e efetivamente discutidas com operadores no terreno — não apenas fóruns e atas.
Além disso, a proposta de constituição do Sistema de Inteligência de Segurança Pública (Sisp), com Rede de Centros Integrados (CIISP), mostra ousadia técnica — mas não esquece os gargalos históricos? A mera digitalização de processos não basta se faltar preparo humano, manutenção dos sistemas, equipamentos de campo e treinamento tático. Integração sem estrutura é como dar uma arma poderosa a quem não sabe atirar. E isso pode colocar em risco tanto a operação policial quanto os direitos dos cidadãos.
Se Brasília pretende ser o farol da redefinição do sistema de segurança público nacional, falta traduzir esse discurso de integração em políticas capazes de diminuir a criminalidade de forma perceptível nas ruas — não apenas nos murais dos corredores oficiais. É preciso que inovação tecnológica caminhe lado a lado com orçamento real, capacitação contínua e governança local fortalecida. Sem isso, a retórica federativa continuará sendo um show de bastidores, enquanto o cidadão sente na pele a mesma insegurança de sempre.
Folha de Brasília, Da redação.
Foto: Divulgação/SSP-DF.