O Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal (IHGDF), que deveria ser guardião da memória e da identidade da capital, encontra-se mergulhado em uma disputa de poder reveladora. O motivo? Um terreno avaliado em R$ 60 milhões, cuja administração e destino dividem a diretoria da entidade. O que poderia ser uma oportunidade de fortalecimento institucional transformou-se em um embate interno que expõe fragilidades éticas e políticas.
As denúncias contra o atual presidente do Instituto giram em torno da centralização de decisões sem consulta à diretoria, atitude que mina a confiança na gestão. A concentração de poder em entidades culturais, geralmente sustentadas por legitimidade moral e não por grandes orçamentos públicos, é especialmente preocupante. Quando a autoridade se sobrepõe ao coletivo, abre-se espaço para suspeitas e deslegitimação.
A situação do IHGDF reflete uma velha armadilha da política brasiliense: a tentação de transformar patrimônio histórico e cultural em moeda de troca. Em vez de pensar no valor social, cultural e educacional de um terreno de alto valor, os debates giram em torno de quem controla os recursos, como se fosse apenas um ativo financeiro a ser explorado. Assim, a cultura perde espaço para o interesse privado de poucos.
É urgente que a sociedade e os órgãos de fiscalização acompanhem esse processo de perto. O Instituto Histórico e Geográfico não pode sucumbir à lógica do mercado e do jogo de poder político. Preservar a memória de Brasília exige transparência, participação e responsabilidade. Caso contrário, a história da cidade — que deveria ser protegida — corre o risco de se tornar apenas mais uma vítima das disputas pelo patrimônio público.
Folha de Brasília, Da redação.
Foto: Sérgio Lima/Poder360.