A Polícia Federal indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo Bolsonaro pelos crimes de coação no curso do processo e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, sob a acusação de que teriam atuado para influenciar investigações relacionadas a sanções dos EUA. Uma medida que, se justificada tecnicamente, também se coloca como um termômetro da fragilidade institucional — um aviso claro de que, em tempos de crise, o uso do poder e suas ramificações familiares não podem estar acima da lei.
Eduardo reagiu com a habitual retórica de vitimização: para ele, a investigação não busca justiça, mas meramente causar desgaste político ao clã. A narrativa, além de manjada, revela o padrão recorrente de constranger o sistema judicial sob o manto de perseguição ideológica, colocando a opinião pública à mercê de polarizações tolas enquanto o país perde fôlego diante das crises.
O indiciamento não pode ser visto apenas como mais um capítulo de um show político. Se a PF encontrou elementos suficientes para formalizar a acusação, é fundamental que o processo avance com rigor e responsabilidade — e que os réus não sejam blindados pelo populismo ou pelas articulações midiáticas. A democracia exige que a lei seja clara, impiedosa e igual para todos: se não, corre o risco de virar letra morta diante de interesses poderosos. Brasília precisa escolher: cumprir a Constituição ou lamentar o seu vazio.
Folha de Brasília, Da redação.
Foto: Lula Marques/Agência Brasil e Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados