A determinação do Supremo Tribunal Federal de manter Jair Bolsonaro sob monitoramento integral em prisão domiciliar levanta um debate essencial sobre justiça e democracia. De um lado, a medida é necessária: um ex-presidente acusado de conspirar contra o Estado democrático de direito não pode ser tratado como cidadão comum. O risco de articulações clandestinas ou até de fuga, diante da proximidade do julgamento sobre o suposto golpe de Estado, exige cautela das instituições.
Mas, ao mesmo tempo, o monitoramento 24 horas também expõe a insegurança de um sistema político que ainda não confia totalmente em sua própria capacidade de impor limites. Bolsonaro é mantido em prisão domiciliar, cercado por regras rígidas, mas continua a mobilizar apoiadores e a ocupar espaço no debate público. Essa dualidade cria a impressão de que sua vigilância é tão simbólica quanto prática, mais voltada a enviar recados de força do que a neutralizar riscos reais.
O que está em jogo não é apenas a conduta de um ex-presidente, mas a maturidade da democracia brasileira em lidar com seus inimigos internos. A lei precisa ser aplicada com firmeza, mas sem arbitrariedade. Se o monitoramento servir apenas como espetáculo político ou como tentativa de alimentar a polarização, perderá sua legitimidade. O verdadeiro teste das instituições é provar que a justiça pode ser rigorosa e imparcial ao mesmo tempo — não ceder à tentação de transformar a defesa da democracia em mais um ato de marketing jurídico.
Da redação, Folha de Brasília