A megaoperação que desarticulou núcleos do Primeiro Comando da Capital (PCC) em Brasília, alcançando inclusive lideranças de alto escalão da facção, foi celebrada como uma vitória do Estado. De fato, expor e prender criminosos de tamanha influência é um passo importante para conter a expansão do crime organizado. No entanto, a pergunta que ecoa é: estamos diante de um avanço estrutural ou de mais um episódio em que o Estado reage tardiamente a um poder paralelo que já se infiltrou em várias esferas da sociedade?
O PCC não é apenas um grupo de criminosos armados; é uma organização empresarial do crime, com estrutura, hierarquia e capacidade financeira que rivaliza com instituições formais. A presença desse poder dentro de Brasília, epicentro político do país, simboliza a ousadia de uma facção que já não teme os limites geográficos nem institucionais. Prender líderes pode enfraquecer momentaneamente o comando, mas sem desmantelar as engrenagens financeiras, de lavagem de dinheiro e de comunicação da facção, o Estado estará apenas cortando ramos de uma árvore cujas raízes seguem cada vez mais profundas.
A megaoperação, portanto, precisa ser vista como alerta. A repressão policial é necessária, mas não suficiente. É urgente atacar as fontes de financiamento, o tráfico de influência e os canais de corrupção que permitem ao crime organizado operar de forma quase institucionalizada. Caso contrário, cada prisão se tornará espetáculo midiático com efeito efêmero, enquanto o PCC se reorganiza e segue ditando regras. A verdadeira vitória só virá quando o Estado deixar de enxugar gelo e finalmente enfrentar o crime organizado na sua dimensão política, econômica e social.
Da redação, Folha de Brasília
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