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Gás do Povo’: alívio imediato, mas sem solução estrutural para a desigualdade

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Gás do Povo’: alívio imediato, mas sem solução estrutural para a desigualdade

O anúncio da expansão do programa “Gás do Povo”, que pretende elevar o número de beneficiários de 5,1 milhões para 15,5 milhões de famílias até 2026, mostra como a política social brasileira ainda é marcada pela lógica da urgência e da dependência. Em um país onde milhões de famílias precisam de subsídio para garantir um botijão de gás, não há dúvida de que a medida terá impacto imediato e aliviará o peso no orçamento doméstico. Mas também é inevitável questionar: trata-se de um avanço estrutural ou de mais um paliativo que reforça a dependência do Estado?

O governo Lula aposta nesse programa como vitrine social, comparável ao Bolsa Família, apresentando-o como ferramenta de inclusão e dignidade. O problema é que o benefício não ataca a raiz da desigualdade: a falta de empregos formais, o baixo poder de compra e a ausência de políticas energéticas que garantam preços acessíveis. Ampliar o alcance do programa é importante, mas perpetua o modelo de compensação emergencial — um Estado que paga para que a população sobreviva, em vez de criar condições para que ela se emancipe.

Se o “Gás do Povo” for tratado apenas como bandeira eleitoral, perderá relevância assim que mudar o governo ou o humor fiscal. O desafio é transformá-lo em política pública sólida, integrada a uma agenda de desenvolvimento que reduza a pobreza estrutural. Isso significa atrelar subsídio a programas de geração de renda, à eficiência energética e a mecanismos que diminuam a dependência do gás de cozinha importado. Caso contrário, o país seguirá preso a uma engrenagem perversa: milhões dependendo de auxílios temporários enquanto as causas reais da desigualdade continuam intocadas.

Da redação, Folha de Brasília

Foto: Marcello Casal/Agência Brasil