Jair Bolsonaro completou um mês em prisão domiciliar em Brasília e, nesse período, não deixou de receber aliados próximos, entre eles o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Embora os encontros tenham ocorrido com autorização do Supremo Tribunal Federal, o episódio levanta uma questão incômoda: estamos diante de uma medida de restrição judicial ou de mais uma oportunidade para o ex-presidente manter viva sua influência política?
A prisão domiciliar, em tese, deveria servir para conter riscos de articulação política e de fuga. No entanto, ao permitir uma romaria de apoiadores, ela se transforma em vitrine. Bolsonaro, mesmo afastado das ruas e impossibilitado de participar diretamente da vida pública, continua a exercer poder simbólico e a alimentar a narrativa de vítima de perseguição judicial. Cada visita registrada é usada como combustível para mobilizar sua base, transformar a punição em palco e projetar suas estratégias eleitorais para 2026.
O risco dessa dinâmica é evidente: a Justiça, ao autorizar visitas políticas sem critérios mais rígidos, pode estar enfraquecendo o próprio efeito de suas decisões. Bolsonaro segue em prisão, mas ainda influencia agendas, constrói alianças e fortalece seu discurso. Se o objetivo é preservar a democracia e garantir que lideranças respondam por seus atos, o STF precisa evitar que a prisão domiciliar se converta em palanque. Caso contrário, o que deveria ser símbolo de punição pode acabar consolidando-se como mais uma peça no jogo de sobrevivência política do bolsonarismo.
Da redação, Folha de Brasília
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil