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Cármen Lúcia e o peso de um voto: quando a Justiça se torna espelho da política

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Cármen Lúcia e o peso de um voto: quando a Justiça se torna espelho da política

O retorno do julgamento de Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal traz para o centro das atenções a ministra Cármen Lúcia, cujo voto é aguardado como possível definidor da maioria. A expectativa que recai sobre uma única ministra revela não apenas a importância do caso, mas também a fragilidade de nossas instituições: a democracia brasileira, com todo o seu aparato jurídico e legislativo, parece pender do gesto individual de uma magistrada.

Essa centralização é problemática. Embora seja natural que em colegiados alguns votos tenham caráter decisivo, a forma como a sociedade e a política transformam o julgamento em espetáculo personalista reforça a narrativa de que a Justiça é palco de vontades individuais, e não de critérios objetivos. No caso de Bolsonaro, essa percepção é ainda mais perigosa, pois fortalece o discurso de perseguição judicial e coloca ministros na posição de protagonistas políticos, quando deveriam ser guardiões silenciosos da Constituição.

O desafio de Cármen Lúcia não é apenas jurídico, mas também simbólico. Seu voto será interpretado em múltiplas camadas: como sinal de firmeza democrática, como suposta prova de alinhamento político ou como gesto de moderação. Seja qual for a decisão, o STF precisa mostrar que o julgamento não é um duelo de personalidades, mas a aplicação serena da lei. Do contrário, a Corte corre o risco de sair do processo não como instituição fortalecida, mas como campo de batalha da polarização que tanto ameaça a democracia brasileira.

Da redação, Folha de Brasília

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil