A condenação de Jair Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão pela participação na trama golpista marca um divisor de águas na história democrática brasileira. Pela primeira vez, um ex-presidente é responsabilizado de forma tão dura por atentar contra as instituições. A decisão do Supremo Tribunal Federal sinaliza que a democracia não será refém da intimidação e que mesmo as mais altas lideranças não estão acima da lei. O recado institucional é claro: a tentativa de subverter a ordem democrática tem consequências severas.
Entretanto, se a condenação representa vitória para o Estado de Direito, também abre um novo capítulo de instabilidade política. Para a base bolsonarista, a decisão não será lida como justiça, mas como perseguição. A pena elevada reforça a narrativa de que Bolsonaro é vítima de um sistema “aparelhado”, discurso que já começa a ser explorado por aliados em busca de apoio popular e político. Nesse contexto, o julgamento pode se tornar combustível para a radicalização, em vez de encerrar o ciclo de instabilidade iniciado em 2018.
O grande desafio do Brasil, a partir de agora, será consolidar a decisão judicial como ato de justiça, e não de revanche. Isso exige clareza na comunicação do STF, firmeza do Congresso em não ceder à tentação da anistia e maturidade da sociedade em separar narrativa política de responsabilidade criminal. Se prevalecer o discurso da perseguição, o país corre o risco de ver a condenação histórica de Bolsonaro transformada em plataforma eleitoral. Mas se a decisão for sustentada com serenidade e rigor institucional, poderá ser lembrada como o momento em que a democracia brasileira, finalmente, impôs limites claros ao autoritarismo.
Da redação, Folha de Brasília
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil