A aprovação do projeto que prevê a realização de testes de escoliose em estudantes das escolas públicas do Distrito Federal é apresentada como avanço na área da saúde preventiva. A iniciativa pretende identificar casos precoces da deformidade da coluna e oferecer encaminhamento médico antes que se tornem problemas graves. A medida, sem dúvida, tem mérito: cuidar da saúde das crianças na escola é uma forma eficiente de ampliar o alcance das políticas públicas. No entanto, também levanta questionamentos sobre a real capacidade do Estado em transformar boas ideias em políticas efetivas.
O risco é que a proposta se resuma a mais uma lei de boa intenção sem estrutura de implementação. Fazer triagens em massa exige equipes capacitadas, logística de exames, parcerias com hospitais e acompanhamento contínuo. Se o Estado não oferecer condições concretas de tratamento após o diagnóstico, os testes se transformarão em números em relatórios, sem impacto real na vida das crianças. É a diferença entre a política pública que cuida e a política pública que apenas registra.
Outro ponto crucial é a prioridade. Enquanto as escolas públicas do DF enfrentam problemas básicos, como falta de manutenção, carência de profissionais de saúde escolar e dificuldade até mesmo no fornecimento de alimentação adequada, cabe questionar se novas demandas não correm o risco de sobrecarregar um sistema já fragilizado. Prevenir a escoliose é importante, mas precisa estar inserido em uma política mais ampla de saúde escolar, que integre odontologia, nutrição, saúde mental e acompanhamento pediátrico. Do contrário, o projeto será lembrado mais como gesto político da CLDF do que como mudança concreta na realidade dos estudantes.
Da redação, Folha de Brasília
Foto: Cl.df.gov/divulgação
