A decisão do relator da CPMI do INSS de defender a convocação do advogado Nelson Wilians como testemunha reforça a estratégia de ampliar o alcance das investigações sobre fraudes e irregularidades no sistema previdenciário. Ao incluir figuras de destaque do meio jurídico e empresarial, a comissão sinaliza que pretende ir além da identificação de falhas administrativas, mirando também a rede de interesses que se alimenta das brechas da Previdência. O gesto pode representar avanço na busca por responsabilização, mas também levanta o risco de transformar o processo em palco de disputas políticas.
As CPIs no Brasil carregam um paradoxo: são ferramentas legítimas de fiscalização parlamentar, mas frequentemente resvalam em espetáculos midiáticos, usados mais para gerar desgaste a adversários do que para produzir resultados concretos. A convocação de Wilians, um nome de peso na advocacia nacional, certamente dará visibilidade ao processo. Contudo, sem provas sólidas que justifiquem sua participação direta nos episódios investigados, a medida pode ser interpretada como tentativa de esticar a narrativa para além dos limites técnicos da investigação.
Se a CPMI quiser sair do campo da encenação e deixar um legado, precisará transformar as oitivas em propostas robustas de reforma: modernização do sistema digital do INSS, ampliação da fiscalização sobre benefícios suspeitos e responsabilização efetiva de gestores e intermediários envolvidos em fraudes. Do contrário, a convocação de grandes nomes da advocacia servirá apenas para manchetes momentâneas, enquanto o cidadão segue enfrentando filas, atrasos e descrédito em um dos serviços públicos mais essenciais do país.
Da redação, Folha de Brasília
Foto: Redes Sociais







