O presidente celebrou a aprovação do projeto que isenta cerca de 10 milhões de brasileiros do pagamento do Imposto de Renda. A medida é apresentada como vitória popular e símbolo de alívio para trabalhadores de baixa e média renda, que há anos reivindicam uma atualização na tabela do IR. Politicamente, a iniciativa reforça o discurso de um governo comprometido com a justiça social e o poder de compra da população.

No entanto, a decisão levanta sérias preocupações sobre seu impacto fiscal. A renúncia bilionária de arrecadação, sem um plano claro de compensação, pode pressionar ainda mais as contas públicas e dificultar a manutenção de investimentos essenciais em saúde, educação e infraestrutura. Especialistas alertam que, em contextos de déficit orçamentário, isenções amplas podem gerar desequilíbrios que recaem justamente sobre os mais pobres, por meio da redução de serviços públicos ou do aumento de tributos indiretos.

A celebração, portanto, não pode mascarar a necessidade de responsabilidade fiscal. Ampliar a justiça tributária exige não apenas isenções populares, mas uma reforma estrutural que cobre mais de quem ganha mais, feche brechas para grandes fortunas e reduza a regressividade do sistema. Sem isso, o alívio imediato pode se transformar em fardo coletivo no médio prazo, enfraquecendo o equilíbrio das contas do país e a confiança na política econômica.

Da Redação, Folha de Brasília

Foto: Radiogov/EBC