O anúncio da chegada ao Brasil de 2,5 mil unidades de fomepizol, antídoto utilizado no tratamento de intoxicações por metanol, é uma boa notícia sob o ponto de vista da resposta emergencial, mas expõe a precariedade histórica da vigilância sanitária e da capacidade nacional de prevenção. O medicamento, essencial para evitar mortes em casos de contaminação por bebidas adulteradas ou produtos químicos industriais, chega após uma série de episódios que demonstraram a vulnerabilidade do sistema brasileiro de controle de substâncias tóxicas.
Nos últimos anos, o país registrou dezenas de casos graves de intoxicação por metanol, especialmente em contextos de falsificação de bebidas alcoólicas e uso indevido de solventes. A demora em garantir acesso ao antídoto é reflexo de uma cadeia desorganizada: falta de estoque estratégico, burocracia nas importações e ausência de coordenação entre Ministério da Saúde, Anvisa e governos estaduais. A chegada do fomepizol representa um alívio momentâneo, mas não resolve o problema de fundo — o país continua agindo de forma reativa, e não preventiva, em temas de saúde pública.
O episódio precisa servir de lição. O Brasil precisa adotar políticas de vigilância mais proativas, com fiscalização rigorosa de produtos químicos e campanhas de conscientização sobre o risco do consumo de bebidas clandestinas. A distribuição do fomepizol deve ser acompanhada de transparência e planejamento logístico, para que chegue a todas as regiões do país, e não se concentre apenas em grandes centros. Avançar na prevenção é mais eficiente — e humano — do que celebrar medidas emergenciais que apenas tentam conter as consequências da negligência estatal.
Da redação, Folha de Brasília
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil