O início do julgamento dos réus do chamado Núcleo 4 da trama golpista pelo Supremo Tribunal Federal, nesta terça-feira, marca mais um capítulo de um processo que mistura justiça, política e memória recente de um país ainda dividido. Trata-se de um momento decisivo, não apenas para responsabilizar os envolvidos nas tentativas de ruptura institucional, mas também para medir a capacidade do sistema democrático de impor consequências sem transformar a punição em espetáculo.
O STF, sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, tem adotado uma postura firme desde os ataques de 8 de janeiro de 2023. Essa rigidez tem garantido respostas rápidas, mas também alimentado críticas sobre excessos e suposto endurecimento seletivo. No caso do Núcleo 4, formado por financiadores e articuladores secundários, a Corte enfrenta o desafio de manter coerência e equilíbrio, evitando tanto o abrandamento político quanto o autoritarismo punitivo. O Brasil precisa de justiça exemplar — não de revanche.
Mais do que uma disputa jurídica, o julgamento do Núcleo 4 é um espelho do país. Ele revela o quanto o extremismo corroeu a confiança institucional e como ainda se busca um ponto de equilíbrio entre liberdade política e responsabilidade legal. O STF tem diante de si a missão de encerrar esse ciclo de forma pedagógica, preservando o Estado de Direito e reafirmando que democracia não é concessão, é conquista — e que quem tenta destruí-la precisa responder dentro das regras, não acima delas.
Da redação, Folha de Brasília
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil