A regulamentação, pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), do Fundo Nacional do Combustível Sustentável da Aviação (FNCSA) marca um passo decisivo na tentativa de alinhar o Brasil à nova agenda global de descarbonização do transporte aéreo. O fundo, que será abastecido com recursos públicos e privados, pretende estimular a produção e o uso de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF), reduzindo a dependência de derivados fósseis e apoiando empresas que invistam em tecnologias limpas.
A medida, embora técnica, carrega forte dimensão estratégica. O setor aéreo é responsável por cerca de 3% das emissões globais de carbono e enfrenta crescente pressão internacional para adotar práticas mais verdes. Ao regulamentar o fundo, o CMN sinaliza que o Brasil quer ocupar posição de destaque nesse mercado emergente — não apenas como consumidor, mas também como produtor de biocombustíveis avançados. O país reúne condições únicas: matriz energética limpa, forte base agrícola e experiência consolidada na produção de etanol e biodiesel.
No entanto, o desafio é transformar potencial em política de Estado. Para que o fundo cumpra seu papel, será preciso assegurar governança, transparência e metas de impacto ambiental mensurável. A transição para uma aviação de baixo carbono não pode ser apenas discurso de mercado ou marketing verde — exige investimento contínuo, integração entre indústria, governo e pesquisa, e compromisso de longo prazo. O Brasil, se agir com seriedade, pode transformar o fundo aéreo em um símbolo de inovação e soberania energética. Mas, se ceder à improvisação, corre o risco de ver o combustível do futuro virar apenas mais uma promessa que não sai do chão.
Da Redação, Folha de Brasília
Foto: José Cruz/Agência Brasil
