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Copom decide Selic nesta quarta e sinaliza perspectiva para 2026

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Copom decide Selic nesta quarta e sinaliza perspectiva para 2026

A última reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom) coloca o Banco Central diante de um dilema que transcende a simples decisão sobre manter ou reduzir a taxa Selic. Em meio a um ambiente de incerteza fiscal, expectativas inflacionárias pressionadas e ruídos permanentes entre o governo e a autoridade monetária, a manutenção da taxa passou a ser interpretada menos como decisão técnica e mais como gesto político. A sinalização do Copom, portanto, não diz respeito apenas ao presente, mas ao grau de confiança — ou desconfiança — que o mercado deposita no compromisso do país com a estabilidade econômica.

Ao mesmo tempo, o governo pressiona por cortes mais acelerados, alegando necessidade de estímulo econômico. Contudo, essa pressão ignora um ponto crucial: a política fiscal tem enviado mensagens contraditórias que elevam o risco-país e dificultam a queda sustentável dos juros. A taxa Selic não se reduz por decreto nem por vontade política; ela responde à credibilidade do arcabouço macroeconômico. Quando gastos crescem mais rápido do que a receita, metas fiscais mudam de direção e promessas de equilíbrio se tornam incertas, o Banco Central tende a agir com maior cautela — e não sem razão.

A decisão do Copom nesta última reunião do ano se torna, assim, um termômetro da relação entre governo, mercado e autoridade monetária. Caso opte por manter a Selic, o Banco Central sinaliza que ainda não enxerga condições sólidas para um ciclo mais agressivo de cortes. Caso decida reduzir, assume o risco de fazê-lo em um ambiente de fragilidade fiscal que pode reverter expectativas. Em ambos os cenários, fica evidente que o problema do Brasil não está apenas na taxa de juros, mas na ausência de um projeto econômico coerente e duradouro. Sem isso, qualquer movimento da Selic continuará sendo apenas um ajuste temporário em um país que insiste em conviver com a instabilidade.

Da redação, Folha de Brasília.

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil