A decisão da Câmara dos Deputados de suspender o mandato do deputado Glauber Braga por seis meses acirra ainda mais o clima de tensão que domina o Parlamento. A punição, resultado do episódio em que o parlamentar ocupou a mesa diretora e foi removido à força, revela a disposição da Casa em responder com rigidez a atos considerados de indisciplina. No entanto, a medida também levanta questionamentos sobre proporcionalidade, seletividade e o uso político das ferramentas disciplinares. Em um ambiente já marcado por confrontos, a suspensão tende a aprofundar divisões em vez de restabelecer a normalidade institucional.

Setores independentes e especialistas em direito parlamentar apontam que a decisão pode abrir precedente perigoso ao ampliar a margem de punições severas para manifestações políticas — especialmente em um Legislativo historicamente tolerante com comportamentos muito mais graves. Ao mesmo tempo, aliados da Mesa Diretora defendem que a suspensão envia mensagem de que a ordem interna precisa ser preservada. O contraste entre essas visões evidencia um problema central: a Câmara tem dificuldade em diferenciar protesto político de desobediência institucional, recorrendo frequentemente à força ou à punição como primeiro mecanismo de resposta.

A suspensão de Glauber Braga ocorre em um momento em que o Parlamento enfrenta críticas sobre autoritarismo, fechamento ao diálogo e dificuldade de lidar com dissenso. Longe de pacificar a Casa, a medida expõe a fragilidade da condução política e o risco de transformar o regimento interno em instrumento de retaliação. O episódio reforça a urgência de repensar a governança do Legislativo: sem regras claras, mediação madura e compromisso com a pluralidade, o Congresso corre o risco de esvaziar sua própria legitimidade como espaço de representação democrática.

Da redação, Folha de Brasília.

Foto: Lula Marques/ Agência Brasil