A possibilidade de retirada de absorventes no Farmácia Popular por estudantes beneficiárias do programa Pé-de-Meia representa um avanço importante na agenda de combate à pobreza menstrual no país — um problema historicamente negligenciado pelas políticas públicas. A medida reconhece que a falta de acesso a itens básicos de higiene afeta diretamente a frequência escolar, a dignidade e a saúde de adolescentes brasileiras, especialmente das regiões mais vulneráveis. No entanto, o anúncio também expõe a demora do Estado em responder a uma demanda antiga e urgente, que apenas recentemente ganhou visibilidade nacional.

Apesar do avanço, a política enfrenta desafios significativos. O Farmácia Popular sofre com cobertura desigual, falta de unidades conveniadas em regiões remotas e burocracia que, muitas vezes, dificulta o acesso real da população. Sem expansão territorial e reforço de estoque, o novo benefício corre o risco de existir mais no discurso do que na prática. Além disso, a medida isolada não substitui a necessidade de uma política estruturante que inclua educação menstrual, distribuição contínua em escolas e campanhas de conscientização — pilares essenciais para que o combate à pobreza menstrual não seja episódico, mas permanente.

A ampliação do Pé-de-Meia para incluir absorventes é, portanto, um passo relevante, mas insuficiente para enfrentar o problema em sua totalidade. O governo precisa garantir implementação efetiva, fiscalização e avaliação contínua de impacto. A pobreza menstrual não será superada apenas com acesso ao produto: exige mudança de cultura, infraestrutura escolar adequada, combate ao estigma e compromisso de longo prazo. O país avança, mas ainda está longe de oferecer às estudantes brasileiras o mínimo: dignidade para aprender e viver sem que a falta de um item básico determine sua trajetória.

Da redação, Folha de Brasília.

Foto: Jerônimo Gonzalez/MS