Muitos que assistem e gostam de futebol ficam indignados com o jogo praticado nas arenas do Brasil quando comparado ao praticado na Europa. Recentemente vimos um desabafo da jornalista Mariana Monteiro.
No Brasil não há mais espetáculo? Preferimos os jogos da Champions League?
Seria pela qualidade dos nossos jogadores?
Hoje ainda exportamos craques e, pelo menos a cada 5 anos, um ” diferente” como Neymar, quebra a casca do ovo. Entretanto, nas décadas passadas, tínhamos craques protagonistas despontando sem parar.
O mágico “futebol brasileiro” do moleque descalço nos campinhos irregulares de terra ou no asfalto, entre um carro e outro, está cada vez mais escasso. Muitas escolinhas entraram em cena. Antes, o que calçava os moleques, era no máximo um “kichute”. Hoje os meninos estão coloridos pelas chuteiras, cabelos e caneleiras modernas. Além do calçado, o gramado deu lugar à grama sintética.
Quando um menino tinha que ajeitar o corpo, pois no campinho a bola pingava e não se sabia pra onde ela iria, sem perceber, esse moleque ganhava em propriocepção, em improviso e o “quique errado da bola torta” era o que fazia desenvolver as suas habilidades de criação, tão característica do jogador brasileiro.
Hoje, o professor do campinho sintético, coloca os meninos em fila e o futebol brasileiro começou a trocar o atrevimento do drible pelo óbvio passe lateral. Ainda bem que ainda temos as escolinhas das favelas e as do interior dos estados.
Fabricamos ainda muitos craques, mas, com certeza, a escassez aumentou.
O que responde a indignação da jornalista sobre o futebol brasileiro é a falta de organização em todos os níveis: confederações corruptas, dirigentes amadores, extorsões e a estrutura de gestão do futebol, desde a “armação” da tabela ao apito final.
E dentro de campo?
Salvo raras exceções, como a organização tática do Corinthians, como a imposição do toque de bola do Grêmio, como o improviso de outro jogador mais atrevido , o nível técnico dos jogos é baixo.
Para piorar, os jogadores reclamam demais, simulam faltas, fazem teatro, fingem contusões, contorcem-se no chão e a esculhambação é geral. Quando chegam à Europa são obrigados a mudar de conduta.
Os minutos jogados no Brasil são infinitamente menores aos jogados na Europa.
De qualquer forma, gostamos de ver o jogo, dos programas esportivos, dos debates na TV, da discussão do boteco, porque aqui é paixão, aqui é Brasil, aqui é a pátria de chuteiras e até quando é ruim, pode ser muito bom!
João Henrique Padula, Folha de Brasília