A denúncia feita por um influenciador digital sobre a “adultização” de crianças nas redes — com cenas sensuais, danças provocativas e famílias que exploram a imagem dos filhos em troca de engajamento e dinheiro — acendeu um alerta nacional. O Congresso reagiu rapidamente: mais de 30 projetos foram apresentados em poucas semanas, todos com o objetivo de frear esse tipo de exposição. A intenção é clara: proteger a infância do abuso digital. Mas a dúvida persiste — a pressa vai resultar em proteção real ou em espetáculo político?
No Senado, um projeto de lei já estabelece que plataformas digitais sejam obrigadas a adotar configurações padrão de privacidade, filtros de idade e mecanismos ágeis de denúncia. O texto também prevê que perfis de crianças sejam vinculados a responsáveis e impõe multas pesadas — que podem chegar a 10% do faturamento das empresas — em caso de descumprimento. A Câmara dos Deputados avalia votar a proposta em regime de urgência, impulsionada pela pressão da sociedade civil e de especialistas que cobram respostas rápidas.
O risco, no entanto, é que legislações feitas sob o calor da pressão midiática se transformem em barreiras simbólicas: leis duras no papel, mas ineficazes na prática por falta de fiscalização, orçamento e mecanismos técnicos de acompanhamento. Regulamentar plataformas exige mais do que anunciar multas; é preciso garantir aplicação concreta, auditoria independente e proteção efetiva das vítimas.
Se o Congresso transformar a comoção em políticas consistentes — com transparência, acompanhamento psicológico e social das famílias e tecnologia eficaz para coibir abusos — este movimento pode ser um marco na defesa da infância. Caso contrário, tudo não passará de um teatro de boas intenções, enquanto crianças continuam sendo empurradas para o palco cruel dos algoritmos em busca de cliques.
Folha de Brasília, Da redação.
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