Na véspera de enfrentar julgamento no Supremo Tribunal Federal por participação em uma trama golpista, Jair Bolsonaro intensificou articulações políticas com o presidente da Câmara, Arthur Lira, e outros aliados. A pauta, segundo relatos, inclui a possibilidade de uma anistia ampla para envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. A estratégia é clara: transformar um processo judicial em disputa legislativa, buscando escapar da responsabilização por meio da política.
A movimentação expõe duas fragilidades da democracia brasileira. A primeira é a disposição de parte da elite política em relativizar ataques às instituições em nome da conveniência eleitoral. Ao cogitar anistia para atos de violência contra a ordem democrática, deputados não apenas desprezam o peso do crime, mas também passam a mensagem de que investidas autoritárias podem ser cometidas sem consequências reais. A segunda é a dificuldade do país em separar o que é matéria de Justiça do que é mera negociação política, um vício histórico que mina a credibilidade das instituições.
Se prevalecer a lógica da anistia, o Brasil não apenas falhará em punir responsáveis por um dos maiores atentados democráticos de sua história recente, mas abrirá espaço para que o futuro repita os mesmos erros. Mais do que nunca, este é um teste de maturidade: ou o Estado reafirma que não há espaço para impunidade em ataques à Constituição, ou permitirá que a política continue servindo de escudo para líderes que flertam com o autoritarismo. O resultado desse embate definirá não apenas o destino de Bolsonaro, mas a solidez da democracia brasileira.
Da redação, Folha de Brasília
Foto: STF/Comunicação