A revista britânica The Economist destacou recentemente o Brasil como um “adulto diplomático” no continente, elogiando a forma como o país lidou com investigações e julgamentos relacionados às tentativas de subversão do processo democrático. O contraste com os Estados Unidos, ainda marcado pela sombra da invasão do Capitólio e pela força política de Donald Trump, é evidente. Para o público internacional, o Brasil parece ter encontrado maturidade ao enfrentar seus fantasmas autoritários. Mas será que esse elogio corresponde à realidade vivida por quem observa de dentro?

De fato, o Brasil deu sinais importantes de resiliência institucional. A Justiça atuou com firmeza diante dos ataques de 8 de janeiro, e o Congresso, apesar de suas divisões, não chancelou aventuras golpistas. Porém, o rótulo de “lição de democracia” corre o risco de mascarar problemas profundos: a polarização ainda domina a política, a confiança nas instituições é frágil e parte significativa da população não reconhece legitimidade em decisões do Supremo ou em processos eleitorais. A democracia brasileira resiste, mas segue cercada de tensões e de um ambiente social explosivo.

O elogio da The Economist talvez diga mais sobre a crise democrática dos EUA do que sobre o avanço do Brasil. A comparação valoriza a estabilidade relativa brasileira, mas não resolve nossas próprias contradições. O país ainda precisa avançar em transparência, reduzir privilégios políticos, combater a violência política e fortalecer a educação cívica. Só assim poderá consolidar de fato o papel de exemplo democrático, não apenas como narrativa conveniente para o olhar estrangeiro. Entre o prestígio internacional e a realidade doméstica, resta a lição: democracia não se proclama em manchete, constrói-se todos os dias, com coerência e coragem institucional.

Da redação, Folha de Brasília

Arte publicada na revista The Economist. — Foto: Reprodução