O governo brasileiro volta a ser pressionado diante da escalada das tensões entre Estados Unidos e Venezuela. Brasília, que já foi palco central da diplomacia sul-americana, hoje parece reduzida a mero espectador. O Itamaraty, antes referência de liderança, vacila entre discursos de integração regional e pragmatismo econômico voltado às grandes potências, perdendo credibilidade em ambos os lados.
Essa postura dúbia enfraquece o papel do Brasil como mediador e compromete sua capacidade de liderar soluções próprias para a região. Em vez de apresentar propostas concretas, o país se limita a declarações genéricas sobre paz e diálogo, que pouco influenciam os desdobramentos do conflito. A América do Sul, assim, vê sua autonomia corroída e abre espaço para que interesses externos ditem as regras.
Se pretende recuperar protagonismo, o Brasil precisa abandonar a diplomacia do improviso e assumir uma posição clara, ainda que arriscada. Neutralidade sem ação é omissão — e a omissão brasileira custa caro: transforma Brasília em palco, mas não em protagonista, de uma disputa que afeta diretamente a estabilidade do continente.
Folha de Brasília, Da redação.
Foto: Ricardo Stuckert / PR