Mais uma vez, o Distrito Federal enfrenta incêndios florestais que atingem áreas de preservação no Lago Norte e em São Sebastião. As chamas, que avançaram rapidamente devido à baixa umidade do ar, colocaram em risco propriedades vizinhas e exigiram ação intensa do Corpo de Bombeiros. O cenário, infelizmente, já não causa surpresa: virou rotina em Brasília assistir a cada seca o mesmo roteiro de fumaça, destruição e improviso.
O problema é que, apesar da gravidade recorrente, o enfrentamento continua sendo reativo, não preventivo. O governo anuncia investimentos em brigadas e campanhas educativas, mas o fogo sempre chega antes do planejamento. A cada ano, multiplicam-se promessas, mas faltam ações estruturadas de prevenção, como limpeza regular de áreas de risco, fiscalização contra queimadas criminosas e campanhas de conscientização permanentes, não apenas sazonais.
Os incêndios expõem também a fragilidade do planejamento urbano e ambiental da capital. Enquanto condomínios avançam sobre áreas verdes, a proteção ambiental fica em segundo plano. Resultado: quando as chamas atingem residências, a sociedade percebe, tarde demais, que preservar não é um capricho de ambientalista, mas um ato de segurança pública e de sobrevivência.
Se Brasília quer realmente ser referência nacional em qualidade de vida e sustentabilidade, precisa ir além do combate emergencial. É urgente transformar a prevenção contra incêndios em política de Estado, com planejamento intersetorial, recursos permanentes e fiscalização rigorosa. Até lá, a cidade seguirá sendo consumida pelo fogo — não apenas o das queimadas, mas o da negligência.
Folha de Brasília, Da redação.
Foto: Minervino Júnior/CB