O furto de 27 colmeias de abelhas no Centro de Criação do Parque da Cidade não é apenas um crime contra o patrimônio público: é um ataque direto à ciência, à preservação ambiental e ao futuro da biodiversidade do Distrito Federal. As espécies levadas — entre elas Mandaguari, Jataí e Uruçu-Amarela — fazem parte de pesquisas que buscam não apenas conservar abelhas nativas, mas também compreender seu papel essencial na polinização e na produção de alimentos. A perda, portanto, é muito maior do que a contagem de caixas roubadas.
Este episódio expõe de forma cruel a negligência com que a segurança de centros de pesquisa e áreas ambientais é tratada em Brasília. Enquanto se multiplicam discursos sobre sustentabilidade e compromissos com o meio ambiente, o básico — proteger patrimônios científicos e naturais — é ignorado. A ausência de vigilância adequada transforma laboratórios e reservas em alvos fáceis, minando anos de trabalho e investimento público.
O furto revela também o desprezo com que a sociedade lida com a preservação. Abelhas nativas não são apenas insetos: são agentes vitais para a manutenção de ecossistemas, para a agricultura e até para a economia. A perda dessas colmeias compromete pesquisas que poderiam gerar soluções sustentáveis para a produção de alimentos e para a recuperação de áreas degradadas. O crime, portanto, não é apenas contra o Estado, mas contra cada cidadão que depende de um meio ambiente equilibrado.
É urgente que o governo do DF trate a proteção de centros de pesquisa como prioridade de segurança pública. Sem investimentos em vigilância, monitoramento e valorização dos projetos científicos, continuaremos a assistir a um ciclo perverso: a ciência produz conhecimento vital, mas a falta de cuidado institucional permite que esse conhecimento seja roubado, destruído ou simplesmente desperdiçado. Brasília não pode aspirar a ser capital de futuro enquanto permite que o presente de sua ciência seja saqueado.
Folha de Brasília, Da redação.
Foto: Rafael Araújo.