A derrubada, pela Câmara dos Deputados, do decreto presidencial que aumentava o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) marcou uma das derrotas mais expressivas do governo Lula na atual legislatura. O texto, aprovado por 383 votos a 98, anula uma medida que previa a elevação do imposto sobre operações de crédito com cooperativas, com expectativa de arrecadação de R$ 20 bilhões em 2025.
O resultado da votação expôs fissuras na base aliada e consolidou a avaliação de que o presidente da Câmara anterior, Arthur Lira (PP-AL), mantém forte influência sobre a condução da pauta legislativa, mesmo após a eleição de seu aliado Hugo Motta (Republicanos-PB) para o comando da Casa.
Nos bastidores, líderes governistas afirmam que havia um acordo firmado com o Congresso para manter o decreto, em uma reunião realizada na casa de Motta, atual presidente da Câmara. A ampla maioria que votou pela suspensão da medida, porém, demonstrou que esse entendimento não se sustentou — e que a base montada por Lira segue operando de forma independente em relação ao Planalto.
A articulação em torno da derrubada do IOF foi interpretada como um movimento de pressão liderado por Lira, que tem demonstrado insatisfação com o governo Lula diante da distribuição de espaços políticos e da condução das negociações com o centrão. A votação reforçou a leitura de que o deputado alagoano continua exercendo poder nos bastidores, mesmo fora do cargo formal.
Lira, que articula sua candidatura ao Senado por Alagoas em 2026, tem se movimentado para manter protagonismo nacional e presença ativa na política local. Em seu estado, enfrentará adversários como o senador Renan Calheiros (MDB) e o prefeito de Maceió, JHC (PL). Manter influência sobre o Legislativo e demonstrar capacidade de mobilização são ativos importantes para essa disputa.
Além da atuação sobre a pauta econômica, Lira também tem buscado consolidar sua força em outras esferas de poder. Ele é apontado como um dos articuladores da indicação da procuradora Marluce Caldas Bezerra, de Alagoas, para uma vaga no STJ (Superior Tribunal de Justiça). A nomeação, porém, está travada há meses, e se tornou mais uma peça de barganha no xadrez político estadual.
A derrubada do decreto do IOF, em meio à frustração do governo e à atuação direta de Lira, indica que o Palácio do Planalto ainda enfrenta dificuldades para consolidar uma base estável na Câmara. O episódio também confirma que, mesmo sem o martelo na mão, Arthur Lira continua sendo um dos principais condutores da política nacional — e peça-chave no tabuleiro das eleições de 2026.
Folha de Brasília, Da redação