A confirmação de Flávio Bolsonaro de que sua candidatura é “irreversível”, dada logo após visita ao ex-presidente Jair Bolsonaro, sinaliza que o clã aposta todas as fichas em uma reorganização política baseada no discurso de lealdade e continuidade. A declaração funciona como um recado direto ao núcleo bolsonarista: a família pretende manter protagonismo eleitoral, mesmo diante de desgastes jurídicos, rejeição concentrada em centros urbanos e fragmentação interna entre aliados. O gesto também demonstra que Jair Bolsonaro segue encarado como fiador político do grupo, ainda que sua influência encontre resistência crescente fora da base radicalizada.
O movimento, contudo, não está isento de riscos. A consolidação precoce de uma candidatura pode isolar potenciais aliados, estreitar margem de negociação partidária e reforçar a percepção de que o bolsonarismo opera em circuito fechado, voltado prioritariamente para o próprio eleitorado. Além disso, o contexto judicial que envolve figuras centrais do grupo — inclusive o próprio ex-presidente — cria instabilidade estratégica. Ao ancorar sua campanha em Bolsonaro, Flávio herda tanto o capital político quanto as vulnerabilidades que cercam o nome do pai, ampliando incertezas sobre viabilidade eleitoral de médio prazo.
Do ponto de vista institucional, a confirmação da candidatura antes mesmo da definição de alianças mostra uma aposta na polarização como método. A campanha tende a explorar narrativas de confronto com o Supremo, com o governo federal e com o “sistema”, buscando mobilizar a base emocional do bolsonarismo. Entretanto, a estratégia que funcionou em ciclos eleitorais anteriores enfrenta hoje um ambiente menos favorável: eleitorado mais disperso, desgaste acumulado e concorrência crescente por lideranças conservadoras. A irreversibilidade anunciada por Flávio pode ser verdadeira — mas não necessariamente garantia de competitividade.
Da redação, Folha de Brasília.
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil







