A ação de fiscalização e reorganização da feira do Setor O, em Ceilândia, anunciada pelo Governo do Distrito Federal, chega em boa hora, afinal, feiras populares são espaços de vitalidade econômica, encontro cultural e sustento de milhares de famílias. A dúvida que paira, no entanto, é se essa iniciativa representa uma mudança estrutural ou apenas mais uma operação pontual para mostrar serviço.
As feiras de Ceilândia convivem há décadas com abandono do poder público: falta de infraestrutura, ausência de sanitários, insegurança e problemas crônicos de higiene. Fiscalizar e reorganizar é necessário, mas se não houver investimentos permanentes em iluminação, coleta de lixo, padronização de barracas e segurança, o efeito será passageiro. A relação entre Estado e feirantes também precisa ser repensada: sem diálogo e escuta, qualquer intervenção soa como repressão em vez de política pública.
Mais do que maquiar a desordem, o governo deveria compreender as feiras como parte estratégica da economia popular e da identidade cultural da cidade. A feira do Setor O tem potencial para ser exemplo de revitalização urbana e valorização social, mas isso só acontecerá se a política for permanente, participativa e transformadora. O futuro da Ceilândia exige mais do que operações de impacto; exige compromisso real.
Da redação, Folha de Brasília
Foto: Divulgação/Administração de Ceilândia