A reação do governo Lula diante da derrota na eleição interna da CPI do INSS escancara o clima de fragilidade política em torno do escândalo dos descontos indevidos a aposentados e pensionistas. Ao articular um plano de trabalho alternativo, o Planalto tenta recuperar espaço em uma comissão onde perdeu a narrativa inicial. A estratégia pode até ser legítima como instrumento parlamentar, mas corre o risco de ser interpretada como manobra defensiva, destinada a blindar aliados e reduzir o impacto das investigações.
A preocupação do governo é compreensível: a oposição domina o ritmo da CPI e já direcionou requerimentos para convocações e quebras de sigilo que atingem figuras próximas ao Planalto. Ao apostar em um plano paralelo, a base governista sinaliza que pretende disputar cada centímetro do debate, mas, ao mesmo tempo, transmite a mensagem de que tem mais interesse em controlar danos do que em apurar responsabilidades. Essa postura enfraquece a imagem de compromisso com a transparência e reforça a percepção de que o escândalo do INSS é também um problema político.
O risco é que a CPI se transforme em um teatro de versões: de um lado, a oposição buscando expor fragilidades do governo; de outro, a base governista tentando esvaziar pautas incômodas. Nesse jogo, quem fica em segundo plano são justamente os aposentados e pensionistas lesados, que aguardam respostas rápidas, punição aos culpados e mecanismos de prevenção para que fraudes semelhantes nunca mais se repitam. Se o governo insiste em se refugiar em planos alternativos, corre o perigo de parecer cúmplice por omissão. Mais que estratégia, o que o país exige é compromisso real com a verdade.
Da redação, Folha de Brasília
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil