Brasília sedia nesta semana a VI Conferência Regional sobre Desenvolvimento Social da América Latina e Caribe, reunindo ministros, representantes da CEPAL, do PNUD e outras autoridades internacionais. O encontro celebra os 30 anos da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Social e promete lançar um documento com diretrizes para ampliar a proteção social na região. É, sem dúvida, um palco importante de diálogo, mas também um retrato das contradições que marcam tanto o Brasil quanto seus vizinhos: falar muito sobre inclusão enquanto milhões seguem excluídos.
O Brasil, anfitrião do evento, convive com um dos maiores sistemas de assistência social da região — o Bolsa Família —, mas ainda falha em garantir políticas consistentes de longo prazo. Oscilações políticas, cortes orçamentários e disputas ideológicas transformam a proteção social em moeda de troca eleitoral. Em paralelo, serviços básicos como saúde, educação e segurança seguem pressionados, e a desigualdade estrutural continua sendo um obstáculo para qualquer discurso de desenvolvimento. Ao trazer lideranças internacionais a Brasília, o país corre o risco de repetir a velha prática de brilhar em relatórios globais enquanto, na vida real, as periferias seguem sem infraestrutura e os trabalhadores informais, sem proteção.
A conferência poderia ser um marco se fosse além do ritual diplomático e enfrentasse de forma concreta os desafios: financiamento estável para programas sociais, combate às desigualdades regionais, fortalecimento da agricultura familiar e modernização das políticas de emprego. Mais do que celebrar aniversários de cúpulas passadas, é preciso oferecer compromissos palpáveis para o futuro. Caso contrário, Brasília terá sediado mais um evento internacional cheio de discursos inspiradores — e vazio de transformações reais.
Da redação, Folha de Brasília
Foto: Roberta Aline/MDS