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Distrito Federal registra oito mortes de ciclistas em três meses

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Distrito Federal registra oito mortes de ciclistas em três meses

Oito ciclistas foram mortos nas vias do Distrito Federal de janeiro a março deste ano, apontam os dados mais recentes do Departamento de Trânsito (Detran-DF). Nesse domingo (23), mais uma morte entrou para esta triste estatística e fez com que as pessoas que pedalam se sintam ainda mais inseguras. Edson Antonelli, 61, foi atropelado na ciclofaixa por volta das 10h de ontem. Segundo o Departamento de Estradas de Rodagem (DER), a motorista envolvida no acidente, Mônica Karina Rocha, 20, estava embriagada.

Edson Antonelli morava na mesma quadra onde tudo ocorreu, a poucos metros dali. Ele deixa dois filhos. Um deles, muito abalado, esteve no local, mas não conversou com a imprensa. Amigos da família informaram que o homem tinha costume de pedalar pela área. O carro de Mônica Karina, um GM Onix prata, teve o parabrisa destruído com o impacto. A Polícia Civil fez a perícia e aguarda o resultado, mas tudo indica que o automóvel acertou a traseira da bicicleta na ciclofaixa.

Um casal que passava pelo local na hora do acidente contou ao JBr. que viu o momento em que o homem caiu no chão, já muito ensanguentado e desacordado. Eles afirmam que a motorista saiu do carro para ver o estado do homem, mas estava muito nervosa e não conseguia falar muito. Como o Corpo de Bombeiros não atendeu de imediato pelo telefone, eles foram pessoalmente ao quartel e chamaram ajuda. Houve a tentativa de reanimar Edson por cerca de 30 minutos, mas ele sofreu uma parada cardiorrespiratória e não resistiu.
Bafômetro

A condutora fez o teste do bafômetro, que deu positivo. O resultado foi 0,865 miligrama de álcool por litro de ar, quando o máximo permitido é 0,3 mg/l. Ela foi presa em flagrante, levada à 6ª DP (Paranoá) e deve ser indiciada por homicídio culposo – quando não há intenção de matar – e embriaguez ao volante.

Na delegacia, Mônica disse que saiu da festa Surreal, ocorrida no sábado à noite na Torre de TV Digital, e pegou um Uber até a QI 12, Conjunto 12 do Lago Norte, onde teria deixado o veículo. Segundo o depoimento, ela afirmou que estava a aproximadamente 70 km/h e que “não se recorda do que aconteceu, acreditando que tenha dormido”. A jovem lembra de ter escutado a pancada e desceu do carro para auxiliar a vítima, além de ter pedido socorro para quem passava.

Colegas de pedal relatam insegurança

O advogado aposentado Maya Viana, 54, passou pelo local do acidente e parou para lamentar a morte de mais um companheiro de pedal nas estradas do DF. “Sempre tenho receio. Ando com uma placa de sinalização na traseira da bicicleta, uma buzina bem alta e um apito para chamar a atenção e ver se os motoristas ficam mais atentos, mas nem sempre dá certo”, desabafa.

Ele complementa que o maior perigo no Lago Norte é nas saídas e entradas das ruas, já que a ciclofaixa foi construída onde era para ser um acostamento. Dessa forma, muitos motoristas não obedecem a distância de 1,5 m nem prestam atenção ao entrar e sair das vias perpendiculares. Morador da QI 11, Maya conhece bem a região. Ele pedala diariamente no Lago Norte e, aos fins de semana, vai até o Eixão. Para o ciclista, os donos de carros não estão acostumados a andar na mesma via que as bicicletas.

Bruno Leite, um dos coordenadores da ONG Rodas da Paz, concorda com Maya: o ciclista, com ciclofaixa ou não, se sente inseguro ao sair de casa e não tem certeza se voltará. Além da falta de educação no trânsito, as vias são muito rápidas – a do Lago Norte, por exemplo, é de 70 km/h. “O que a gente tanto prega não é que a via não é exclusiva do carro, e, mesmo sem ciclovia, o carro protege a bicicleta. Só que a gente está vendo que isso não é levado em consideração”, diz Bruno.

Para reduzir o problema, seria preciso haver punições mais pesadas. Ele garante que, se o problema em regiões centrais parece grande, em cidades mais distantes é pior.

Saiba mais

Dados do Detran indicam que 19 ciclistas foram mortos em todo o ano passado, e 32 em 2015. No primeiro trimestre deste ano, 4.834 condutores foram autuados por dirigir após a ingestão de bebida alcoólica: aumento de 36,5% em relação ao mesmo período de 2016. A média diária foi de 53 multas, no valor de R$ 2.934,70 cada.

No dia 15 deste mês, devido ao Dia Mundial do Ciclista, o Detran iniciou, por Planaltina, a campanha “Ultrapasse. Não passe”. Também houve ação no Parque da Cidade nesse fim de semana.

Jornal de Brasília