A declaração do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que prefere ser visto como “gastador” do que como “caloteiro”, sintetiza uma tensão antiga da política econômica brasileira: o dilema entre responsabilidade fiscal e credibilidade financeira. Em um país que convive há décadas com crises de confiança, juros altos e um histórico de desequilíbrios fiscais, a fala de Haddad não é apenas um desabafo político — é um recado sobre prioridades.
Ao reagir às críticas de que o governo tem afrouxado o controle das contas públicas, o ministro tentou reposicionar o debate: gastar, quando bem planejado, pode significar investimento e crescimento; já o calote — ou a incapacidade de honrar compromissos — destrói a confiança e encarece o crédito. O problema é que, na prática, o limite entre gasto responsável e populismo fiscal é tênue. O desafio de Haddad é convencer o mercado e o Congresso de que sua política é expansiva, mas não irresponsável.
A fala, embora politicamente habilidosa, expõe a fragilidade da estratégia econômica atual. Sem um plano robusto de equilíbrio das contas e com pressões crescentes por mais despesas, o risco é que o discurso da “preferência pelo gasto” acabe corroendo a credibilidade que o ministro conquistou junto ao setor financeiro. O Brasil precisa de investimentos produtivos e sensibilidade social, mas também de seriedade fiscal. Entre ser gastador e caloteiro, o melhor seria ser eficiente.
Da Redação, Folha de Brasília
Foto: Lula Marques/Agência Brasil







