O pedido formal de entidades industriais para que o governo amplie a taxação sobre as plataformas de apostas esportivas — as chamadas bets — reacende um debate estratégico: o uso da tributação como instrumento de justiça social e de equilíbrio fiscal. A proposta, defendida por setores da indústria e por parte do Congresso, é que parte da arrecadação obtida com as apostas seja vinculada ao financiamento da saúde e da educação pública, áreas que sofrem com escassez de recursos e crescente demanda por investimentos.
A discussão, contudo, extrapola o campo econômico. A explosão das bets no Brasil criou um fenômeno social e financeiro de grandes proporções, movimentando bilhões de reais em poucos anos, muitas vezes com pouca transparência e fiscalização limitada. Enquanto empresas do setor esportivo e publicitário lucram, o Estado ainda engatinha na regulação e no controle tributário dessa atividade. A reivindicação da indústria é, portanto, também um alerta ético: não é razoável que um setor de tamanha rentabilidade siga contribuindo tão pouco para o bem público.
Por outro lado, a taxação deve ser planejada com responsabilidade. Tributar demais pode estimular a clandestinidade e afastar operadores legalizados, enquanto tributar de menos perpetua a injustiça fiscal. O equilíbrio está em criar um modelo sustentável, que assegure arrecadação estável sem sufocar o setor e garanta transparência no destino dos recursos. Vincular parte da receita das bets à saúde e à educação não é apenas uma medida econômica — é um gesto civilizatório. Num país em que o jogo cresce enquanto escolas e hospitais enfrentam cortes, a escolha é moral: ou o Estado assume o controle da sorte, ou continuará refém dela.
Da Redação, Folha de Brasília
Foto: CNI/Divulgação







