O incêndio que destruiu dez banheiros químicos instalados na Esplanada dos Ministérios em Brasília, nesta semana, pode parecer um ato isolado de vandalismo. A prisão de um suspeito pela Polícia Militar reforça a ideia de que o caso terá uma solução rápida e pontual. Mas reduzir o episódio a uma simples ocorrência policial seria ignorar o que ele simboliza: a crescente degradação do espaço público como reflexo da crise social e política que atravessamos.
Brasília, centro do poder político nacional, deveria ser também um espaço de convivência democrática, aberto à população e preparado para receber manifestações, atos cívicos e eventos culturais. No entanto, cada vez mais, a Esplanada se converte em palco de tensão, marcada por protestos violentos, bloqueios de segurança e episódios de depredação. O incêndio dos banheiros é mais um lembrete de como o espaço público vem sendo corroído por atos de intolerância, descaso e desrespeito ao coletivo.
Mais grave ainda é perceber a reação quase automática das autoridades: contenção imediata, mas nenhuma reflexão sobre as causas. Até quando vamos tratar sintomas sem encarar a raiz do problema? O vandalismo na Esplanada é fruto de um ambiente em que a cidadania perde espaço, a polarização política se traduz em hostilidade cotidiana e a capital do país deixa de ser vitrine democrática para se tornar metáfora de um Brasil em chamas. Enquanto o espaço público não for resgatado como bem comum, estaremos condenados a repetir tragédias em escala cada vez maior.
Da redação, Folha de Brasília
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil