A operação da Polícia Civil do Distrito Federal que desmontou um grupo de estelionatários responsável por movimentar R$ 1,8 milhão expõe mais uma faceta do crime econômico no Brasil: a capacidade de adaptação das fraudes financeiras diante da lentidão do Estado em fiscalizar e prevenir. Não se trata apenas de um esquema isolado, mas de um reflexo de como redes criminosas sofisticadas conseguem explorar brechas legais e tecnológicas para lucrar em cima da boa-fé da população.
O estelionato moderno vai muito além do “conto do vigário” tradicional. Hoje, envolve estruturas digitais, falsificação de dados, engenharia social e até suporte logístico em larga escala. O fato de o grupo ter conseguido movimentar quase dois milhões sem despertar suspeitas imediatas mostra que os mecanismos de rastreamento e auditoria ainda são frágeis, sobretudo em instituições financeiras que deveriam atuar como barreiras primárias contra golpes. O resultado é a repetição do ciclo: o crime se organiza rapidamente, enquanto a repressão chega tarde, apenas para contabilizar prejuízos.
Mais do que celebrar prisões e apreensões, o desafio está em fortalecer a prevenção. Isso passa por três eixos fundamentais: educação financeira e digital da população, modernização das ferramentas de rastreio do sistema bancário e punição exemplar para desestimular a reincidência. Se o Estado continuar operando apenas de forma reativa, novas quadrilhas ocuparão rapidamente o espaço das que forem desmanteladas. O combate ao estelionato precisa sair da retórica e virar política pública de proteção, sob pena de naturalizarmos um crime que mina silenciosamente a confiança social.
Da redação, Folha de Brasília
Foto: Sinpol/DF