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Indígenas do mundo cobram na COP30 centralidade na ação climática, e expõem a incoerência dos líderes globais

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Indígenas do mundo cobram na COP30 centralidade na ação climática, e expõem a incoerência dos líderes globais

A COP30, apresentada como a grande conferência que colocará a Amazônia no centro das decisões climáticas, já começa sob pressão — e não por parte dos governos, mas dos povos que há séculos protegem exatamente aquilo que o mundo agora tenta salvar por discursos. Delegações indígenas de diversos continentes têm cobrado, de forma firme e direta, que sua participação deixe de ser apenas simbólica e passe a ocupar o núcleo das decisões. E, mais do que isso, denunciam a incoerência persistente dos países que exaltam metas ambientais, mas seguem apoiando projetos que destroem territórios originários.

O recado é claro: não existe ação climática real se os povos indígenas continuarem sendo tratados como “participantes decorativos” de um evento que discute, justamente, o futuro de suas próprias terras. A contradição salta aos olhos quando se compara as falas oficiais — repletas de promessas e metas — com a realidade vivida por muitas dessas comunidades: invasões, garimpo ilegal, queimadas, apropriação de recursos naturais e ausência crônica do Estado. Enquanto diplomatas negociam protocolos, indígenas enfrentam no chão da floresta as consequências diretas da crise climática.

A crítica mais forte feita por essas lideranças na COP30 gira em torno de um ponto incômodo: governos e empresas tentam transformar a pauta climática em um grande palco de marketing verde, ignorando que as soluções já existem há milhares de anos dentro das próprias comunidades tradicionais. Os indígenas cobram não apenas voz, mas poder de decisão, apontando que 80% da biodiversidade mundial está em territórios por eles protegidos — um dado que desmonta qualquer narrativa de que são apenas “aliados” na luta ambiental; eles são os protagonistas.

A presença indígena na COP30 tem servido como espelho para o mundo: revela que não basta criar acordos, relatórios e metas ambiciosas. É preciso encarar a verdade incômoda de que o modelo econômico atual, centrado no lucro imediato, é incompatível com a sobrevivência da floresta e dos povos que a mantêm viva. E enquanto essa contradição permanecer, a COP corre o risco de se tornar apenas mais uma conferência repleta de discursos bonitos e resultados vazios — enquanto as comunidades que realmente sustentam o equilíbrio climático continuam lutando sozinhas pela própria existência.

Da redação, Folha de Brasília

Foto: Agafoto Agência Gaucha de Fotografia