O Supremo Tribunal Federal decidiu suspender o julgamento de Jair Bolsonaro e de outros réus ligados à trama golpista, adiando sua continuidade para o dia 9 de setembro. A justificativa oficial é a necessidade de mais tempo para análise dos votos e argumentos apresentados. Mas, em um caso que carrega peso histórico e político, a interrupção inevitavelmente abre espaço para leituras de bastidores: estaria a Justiça apenas exercendo cautela ou cedendo, ainda que indiretamente, à pressão do ambiente político e social que cerca o processo?
A postergação pode até reforçar a imagem de prudência do STF, que evita decisões apressadas em processos de tamanha gravidade. No entanto, ela também fragiliza a percepção de firmeza institucional. Em um país traumatizado pelos ataques de 8 de janeiro e ainda polarizado, qualquer sinal de hesitação corre o risco de ser interpretado como fraqueza. Para os aliados de Bolsonaro, o adiamento pode soar como fôlego extra para articular narrativas de perseguição. Para seus críticos, parece uma manobra que prolonga a angústia e alimenta a dúvida sobre a capacidade do Supremo de enfrentar com rapidez e clareza os desafios que a democracia impõe.
Mais do que o resultado final, o que estará em julgamento é a imagem da própria Justiça. Se o STF conseguir conduzir o processo com rigor técnico e serenidade, o adiamento será lembrado como cautela legítima. Mas se a demora se transformar em morosidade ou for percebida como cálculo político, o risco será enorme: a Suprema Corte, que deveria ser o pilar da estabilidade institucional, acabará alimentando a narrativa de incerteza que corrói a confiança na democracia.
Da redação, Folha de Brasília
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil