O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal mobilizou Brasília de forma inédita. Food trucks retirados da Esplanada, drones sobrevoando a região e um esquema especial de segurança até 12 de setembro transformaram o coração político do país em uma fortaleza. Medidas excepcionais como essas revelam a dimensão do momento histórico: não se trata apenas de julgar um ex-presidente, mas de colocar à prova a capacidade do Estado brasileiro de impor a lei mesmo diante de figuras que ainda mobilizam multidões e paixões políticas.

A blindagem da capital, porém, também expõe uma ferida aberta. A democracia só se fortalece quando seus ritos institucionais podem ocorrer sem a necessidade de cercos, interdições e temor de violência. Se é preciso vigiar cada esquina e monitorar cada gesto, é porque o extremismo ainda lateja no subsolo político. O risco de manifestações descontroladas e tentativas de tumultuar o processo mostra que parte da sociedade não aceita as regras do jogo democrático quando o resultado lhe é desfavorável.

Mais do que prender ou absolver Bolsonaro, o julgamento precisa deixar um recado claro: nenhuma liderança está acima da lei e a democracia não pode ser refém da intimidação. Se o país conseguir atravessar este episódio com firmeza, transparência e serenidade institucional, terá dado um passo decisivo para consolidar sua maturidade política. Caso contrário, Brasília blindada se tornará símbolo de uma democracia que ainda teme seus próprios inimigos internos.

Da redação, Folha de Brasília

Foto: Ton Molina/STF