Por Cristovão Pinheiro
Colunista da Folha de Brasília
Bolsonaro está preso. E Lula, diante disso, caminha com naturalidade para sua reeleição — um movimento que, se confirmado, consolidará o quarto mandato presidencial do líder petista. Somados os seus três mandatos, o período de governo de Dilma Rousseff e a possível reeleição em 2026, o PT alcançaria praticamente 21 anos no poder, um marco que revela não apenas força eleitoral, mas uma hegemonia construída com método, disciplina e estratégia.
A pergunta essencial não é sobre a duração dessa permanência. É sobre o motivo. O que permite ao PT vencer tantas eleições presidenciais, mesmo enfrentando crises, rupturas políticas e forte polarização? A resposta é simples: estratégia e amadurecimento político.
A vitória não é fruto do acaso — é fruto de método
Não se trata de discutir aqui os métodos utilizados pelo PT — muitos deles contestáveis. Mas é impossível negar que são métodos eficientes. O partido aprendeu, ao longo de décadas, a dominar a narrativa política, coordenar comunicação e manter unidade interna. Quando entra em uma disputa eleitoral, o PT joga com foco, preparação e clareza.
Enquanto isso, a direita brasileira sofre de um problema estrutural. Embora tenha conquistado relevância digital e mobilização espontânea nas redes sociais — muitas vezes maior que a da própria esquerda — falta-lhe algo fundamental: coerência estratégica. O campo conservador é marcado por um excesso de vaidades, disputas internas e falta de maturidade política. Cada liderança fala por si. Cada grupo tenta impor seu protagonismo. E, assim, o movimento se desfaz antes mesmo de se estruturar.
A direita faz barulho; o PT faz política
Nas redes sociais, a direita é potente. Na política real, é dispersa. A energia que gera engajamento não se converte em estratégia eleitoral. O que se vê é um repertório de discursos aleatórios, opiniões sem nexo, propostas imaturas e líderes que frequentemente se contradizem. Essa falta de consistência enfraquece o movimento e faz com que parte da população veja a direita como incapaz de ocupar o centro da decisão política.
Enquanto isso, o PT mantém direção, método e disciplina. Seus líderes falam o que precisam falar, quando precisam falar. Suas ações são calculadas. E sua base militante, mesmo fragmentada em temas, converge na hora decisiva.
Quando um lado amadurece e o outro improvisa, o resultado é previsível
O cenário atual não deixa dúvidas: um movimento politicamente amadurecido sempre vencerá outro que age por impulso. Se a direita continuar a depender apenas de indignação digital, sem construir projeto, estratégia e unidade, continuará repetindo o mesmo destino: crescimento nas redes e derrota nas urnas.
Lula está a um passo não apenas de ser reeleito — mas de consolidar o maior ciclo de poder contínuo da história recente do país. E isso só será revertido quando a direita, enfim, decidir deixar o improviso para trás e assumir que política se faz com estratégia, maturidade e visão de país.







