Ao inaugurar o Parque Linear da Nova Doca, em Belém, o presidente Lula afirmou que “vamos virar motivo de orgulho para o mundo a partir da COP30”, projetando a conferência climática como um divisor de águas na imagem internacional do Brasil. A obra, parte da preparação para o evento, foi entregue com discursos grandiosos e promessa de legado urbano.
Mas a retórica precisa ser confrontada com a realidade: projetos simbólicos são bem-vindos, mas não bastam para apagar déficits históricos. Belém tem sérios desafios de saneamento, mobilidade, desigualdade social e infraestrutura que não podem esperar o calendário da COP para serem enfrentados. O Parque Linear é visualmente importante — mas questionável se será funcional para a maioria da população local no longo prazo.
A COP30 pode ser mote de celebração e visibilidade global, mas o verdadeiro teste será depois de seu encerramento. Se esses investimentos deixarem de ser ação pontual e se transformarem em políticas perenes — manutenção, participação comunitária, democratização de acesso —, talvez o orgulho prometido se torne um legado legítimo. Caso contrário, ficarão apenas discursos para foto.
Da Redação, Folha de Brasília
Foto: Ricardo Stuckert/Agência Brasil