O pedido de extradição de Alexandre Ramagem, feito pelo ministro Alexandre de Moraes após a fuga do ex-diretor da Abin para os Estados Unidos, marca um dos pontos mais tensos da relação entre o bolsonarismo e o sistema de Justiça. A fuga, antes mesmo de qualquer ordem formal de prisão, é interpretada como admissão de que o avanço das investigações sobre espionagem ilegal e uso político da máquina estatal poderia resultar em medidas mais duras. Ao acionar mecanismos de cooperação internacional, Moraes transforma o caso Ramagem de um problema doméstico em um episódio de repercussão externa, elevando o custo político e diplomático da escapada.
A extradição, porém, não será simples. A legislação norte-americana costuma analisar com rigor casos envolvendo acusações políticas, e a defesa de Ramagem tentará explorar exatamente essa narrativa: a de que estaria sendo perseguido pelo Supremo no contexto de um suposto embate ideológico. A estratégia, já utilizada por outros investigados, busca desacreditar o processo judicial brasileiro e transformar o réu em refugiado político. Enquanto isso, o STF sustenta que as investigações apontam para práticas concretas de violação de sigilo, uso indevido de sistemas de inteligência e organização de esquemas que atentam contra o funcionamento do Estado democrático de direito.
Independentemente do desfecho, o episódio expõe falhas estruturais: autoridades que deixam o país sem restrições judiciais, articulações para evitar a Justiça e um sistema político que há anos tolera interferências na inteligência estatal. A fuga de Ramagem não é um caso isolado; é sintoma de um ciclo de tentativa de captura institucional que agora enfrenta reação mais contundente do Judiciário. A extradição, se efetivada, será um recado claro de que o país não aceitará que figuras centrais em investigações de alto impacto se escondam atrás de fronteiras. Caso não ocorra, evidenciará a urgência de reformas que impeçam que agentes públicos usem o exterior como abrigo para escapar da responsabilização.
Da redação, Folha de Brasília.
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil







