O silêncio mantido por Thaisa Hoffmann Jonasson, esposa do ex-procurador-geral do INSS, Virgílio Antônio de Oliveira Filho, em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga o esquema de descontos indevidos em benefícios previdenciários, lança um alerta sobre a fragilidade dos mecanismos de responsabilização no país. Embora amparado pelo direito constitucional de não produzir prova contra si, o silêncio, em casos de relevância pública, também se torna um gesto político — e como tal, precisa ser enfrentado com rigor institucional.
As investigações apontam movimentações financeiras expressivas, aquisição de imóveis de alto padrão e possíveis vínculos empresariais suspeitos envolvendo o ex-procurador e sua esposa. Tais indícios colocam em xeque a integridade de servidores públicos e levantam dúvidas sobre o grau de proteção e conivência que o sistema oferece a quem, em tese, deveria zelar pelo erário. O que está em jogo não é apenas a conduta individual, mas a confiança na capacidade do Estado de apurar, sem seletividade, crimes de corrupção que corroem a estrutura administrativa e prejudicam milhões de segurados do INSS.
A CPMI, ao se deparar com o silêncio e a ausência de documentos que poderiam esclarecer os fatos, enfrenta agora o desafio de não permitir que o direito à omissão se transforme em salvo-conduto para a impunidade. O país já assistiu a inúmeros escândalos que terminaram em silêncio — institucional e político. Cabe ao Congresso, ao Ministério Público e à Justiça demonstrar que, desta vez, não será assim. O silêncio pode ser um direito, mas diante da verdade e do interesse público, a omissão é uma afronta.
Da Redação, Folha de Brasília
Foto: Lula Marques/ Agência Brasil.







